Na sala de espera…

Letícia Campos
4 min readMay 10, 2022

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Fonte: Tecnoarte

Outro dia fui encarregada de ser acompanhante de uma tia que faria uma cirurgia, e então compreendi o porquê alguém que está no hospital é chamado de paciente, é a única virtude que precisaremos para suportar estar ali rsrs.

Chegamos ao hospital de mala e cunha, medo e ansiedade. Chamaram o nome dela, a encaminharam para a sala de cirurgia e eu, fui convidada a me juntar ao pequeno grupo de preocupados na sala de espera. Como uma boa sala de espera, haviam diversas pessoas que assim como eu, esperavam. Aguardam notícias de suas mães, pais, avós, filhos e entes queridos. O que todos ali naquela sala tinham em comum era a esperança que se desprendia da espera de uma boa notícia. Uma cirurgia que foi um sucesso, alguém em coma que despertou, um bebê que acaba de nascer saudável, alguém que foi curado do covid, a alta, a restauração, e principalmente, a volta para casa.

Me detive a observar ao longo das várias horas que estive lá, os diversos resultados e notícias que chegavam e a aflição de quem espera. Em um momento, chegou uma avó com o celular na mão e um sorriso enorme a gritar pelo hospital que sua filha havia dado à luz a um menino, um lindo e saudável menino. Gabava-se e mostrava as fotos do recém nascido ao grupo de, mais ou menos cinco pessoas, que aguardavam com ela. E ali, entre fotos, comentários, sorrisos e abraços, celebravam a sua então chegada boa notícia, celebravam a vida.

Enquanto essa celebração acontecia, percebi os sorrisos dos que aguardavam somados aos olhos preocupados e cheios de esperança de quando é que suas boas notícias também chegariam. Alguns logo se inquietavam e se dirigiam aos guichês de atendimento perguntando se havia alguma atualização; voltavam com sorrisos comedidos com a promessa de que faltaria pouco, enquanto outros voltavam ainda mais preocupados por não haver notícia nenhuma. Nas horas de notícia nenhuma, o coração se aperta e a mente quer imaginar o pior, mas no fundo, lá no fundinho, sempre há a esperança que se confunde com o desejo de que logo virá algo melhor, tudo ficará bem.

Entre um pensamento e outro, uma reflexão aqui e acolá, chegou um médico e chamou uma mulher para acompanhá-lo; se dirigiram para dentro de uma sala, e poucos minutos depois, escutei um grito: “Nãaaaoooo, não pode ser!”. Este grito me quebrou, cortou o mais fundo do meu coração; um grito ensurdecedor, doído, um pranto que veio lá do mais profundo daquele ser. Sim, a morte veio, e ela não bateu na porta, abrindo um buraco no exato tamanho daquele ser humano que se foi. Se a única certeza que temos na vida é a morte, porque será que nunca estamos preparados para ela?

Bom, na sala de espera a boa notícia chegou, cheia de vida, beleza e verdade. Na mesma sala de espera, a boa notícia chegou, cheia de choro, dor e saudade.

Isso me levou a pensar que talvez nesta vida, seguimos numa constante sala de espera, a espreita da vida e da morte, do belo e do feio, do sucesso e fracasso, da salvação ou condenação. Estávamos numa sala de espera sem saber o que esperar quando Cristo nos encontrou ali, aflitos, vagando pelos corredores, nos dirigindo a guichês diversos, com os olhos neste mundo que um dia será vaga lembrança, à espera de uma boa notícia que desse sentido à nossa espera de algo melhor para chegar. E então, as portas se abrem e vem o anúncio: Cristo veio, a boa nova, cheia de graça e verdade.

Ele vem e diz para todos na sala de espera que o tempo de espera acabou, o medo da morte já não nos pode alcançar, ele venceu! Veio cumprir tudo que havia prometido e dar nova vida aos que estavam mortos em seus delitos e pecados. Com a encarnação de Cristo, se encarna em nós a esperança de que o tempo de sofrimento acabou; ele sofreu tudo no nosso lugar, há tempo de perdão, de restauração.

A diferença da sala de espera agora é que antes esperávamos sem saber o que esperar, hoje sabemos exatamente o que nos espera, uma vida de glória eterna com o amado das nossas almas, esperamos em Cristo, o autor e consumador da nossa fé. A morte já não pode nos surpreender, ele venceu. Ainda há dores neste mundo, acabou a espera, mas ainda não, contudo calma, o bom pastor diz que logo chegará o dia da alta, voltaremos para casa.

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